Em um país caracterizado pelo tardio reconhecimento dos direitos de cidadania, processos de grandes transformações e impacto no quotidiano da população foram seguidamente implementados sem canais de participação, ou mesmo de ausculta e diálogo. O povo teve que se valer dos poucos meios acessíveis, e o fazia não na forma de pleito, mas de “queixas”, conforme o belo registro feito pelo historiador Eduardo Silva, no livro Queixas do povo1 . Nele são analisadas cartas de leitores a uma coluna do Jornal do Brasil com o mesmo título e, dessa forma, reconstruídos os cenários, as críticas e a percepção popular sobre a expansão urbana e seus impactos negativos no Rio de Janeiro da década de 1910. Seja na então capital da República, seja em distintos municípios brasileiros, a voz e a participação da sociedade, sobretudo das camadas populares, só se fizeram perceber de modo mais efetivo, ainda que com conhecidas limitações, a partir da Constituição de 1988.