Acesso
O que é acesso à saúde?
O acesso se dá pela possibilidade de utilizar os cuidados em saúde de forma fácil e viável, sendo associado a capacidade de oferta dos serviços e de poder atender às necessidades de saúde da população (CARVALHO et al., 2020).
O que é acessar?
O ato de acessar vai além de ter os direitos descritos e garantidos pelas legislações. Acessar é ter liberdade para poder utilizá-los de acordo com suas necessidades singulares e com suas demandas. Se o profissional de saúde não concentra seu cuidado para com o usuário de acordo com as necessidades que ele traz, acaba por criar barreiras de acesso que terão impactos negativos nos determinantes e condicionantes de saúde deste usuário. Dessa forma, mesmo com a garantia dos princípios e diretrizes do SUS, o acesso não acontecerá na prática (ANDRADE et al., 2022).
Como é o acesso às ações e serviços de saúde para a população em situação de rua?
Ainda que a saúde seja um direito de todos e um dever do Estado, conforme garantido pela Constituição Federal de 1988, para a PSR, o acesso a esse e outros direitos enfrenta inúmeros desafios e obstáculos, resultando em barreiras significativas de acesso e acessibilidade.
Estudos indicam que o acesso dos indivíduos em situação de rua aos serviços de saúde geralmente ocorre em situações emergenciais para atender a necessidades momentâneas ou por meio de dispositivos como o Consultório na Rua e o Centro de Atenção Psicossocial - Álcool e Drogas (ALVES et al., 2021; ENGSTROM 2019; TEIXEIRA et al., 2016). Especialmente quando não há serviços específicos disponíveis em territórios com pessoas em situação de rua, como é o caso do Consultório na Rua.
O sistema de saúde é movido por profissionais cujo processo formativo, por vezes, se dá longe da realidade dessa população, fato que também reflete na falta de preparo para acolher as demandas trazidas pela PSR. A falta de sensibilização diante do contexto social vivenciado pela PSR tem acarretado situações de discriminação dentro dos próprios serviços de saúde (BARATA., et al. 2015).
O processo saúde-doença vai além da dimensão biológica (PAIVA et al. 2016). O modelo biomédico é insuficiente para lidar com o processo saúde-doença da PSR, pois ao focar apenas nas dimensões biológica e patológica, desconsidera as dimensões sociais e políticas envolvidas. Isso leva a soluções simplistas que muitas vezes culpabilizam essa população por suas condições.
Referências:
ALVES, N. R. et al. Atuação dos profissionais do consultório na rua no âmbito da Atenção Primária à Saúde do Brasil: Uma revisão de escopo. Research, Society and Development, v. 10, n. 4, p. e59410414470, 24 abr. 2021.
ANDRADE, R. DE et al. O acesso aos serviços de saúde pela População em Situação de Rua: uma revisão integrativa. Saúde em Debate, v. 46, p. 227–239, 21 fev. 2022.
BARATA, R. B. et al. Desigualdade social em saúde na população em situação de rua na cidade de São Paulo. Saúde e Sociedade, v. 24, n. suppl 1, p. 219–232, jun. 2015.
CARVALHO, M. E. L. DE et al. A acessibilidade nos serviços de saúde sob a perspectiva da pessoa com deficiência, Recife - PE. Revista Eletrônica Acervo Saúde, v. 12, n. 1, p. e1767, 13 jan. 2020.
ENGSTROM, E. M. et al. A dimensão do cuidado pelas equipes de Consultório na Rua: desafios da clínica em defesa da vida. Saúde em Debate, v. 43, n. spe7, p. 50–61, 2019.
PAIVA, I. K. S. DE et al. Direito à saúde da população em situação de rua: reflexões sobre a problemática. Ciência & Saúde Coletiva, v. 21, n. 8, p. 2595–2606, ago. 2016.
TEIXEIRA, M. B. et al. Os invisibilizados da cidade: o estigma da População em Situação de Rua no Rio de Janeiro. Saúde em Debate, v. 43, n. spe7, p. 92–101, 2019.